Adaptações ao Treino de Resistência Cardiovascular

Depois da bioenergética, aqui ficam algumas das principais adaptação ao treino cardiovascular.

A capacidade de manter um trabalho sub-máximo depende da manutenção da homeostase. O treino de endurance resulta numa transição mais rápida entre os estados de repouso e de steady-state, na menor necessidade de recorrer ao glicogénio muscular e hepático e em inúmeras adaptações cardiovasculares e de termoregulação que permitem manter o equilíbrio do organismo. Em parte estas alterações devem-se a adaptações bioquímicas e estruturais dos músculos mas outras, como as alterações das respostas das catecolaminas, devem-se a factores externos aos músculos. Algumas melhorias da performance atlética ocorrem muito rapidamente e devem-se a adaptações a nível neurológico ou hormonais um pouco como acontece no treino de resistência muscular (1).


Nas corridas de fundo, as fibras musculares são recrutadas por períodos longos e em intensidades relativamente baixas. Assim, as fibras recrutadas serão principalmente as fibras de tipo I e as de tipo IIA (2). Verifica-se então que as fibras de contracção lenta predominam nos músculos dos atletas de elite de provas de fundo (3). As adaptações ao treino ocorrerão então nesta classe de fibras e consistem na melhoria da capacidade em utilizar o oxigénio, podendo-se verificar esse efeito pelo aumento do VO2max e pelo deslocamento do limiar do lactato para a direita (2).

O VO2max mais elevado que um atleta consegue atingir ocorre entre 8 a 18 meses de treino intenso (4), indicando que esta característica fisiológica só é treinável até um certo tecto genético e apesar de numerosos estudos sugerirem uma relação entre o VO2max e desempenho numa prova como a maratona, esses estudos foram realizados em amostras muito heterogéneas, não se evidenciando essa relação em estudos realizados com atletas de elite. Assim, não obstante a uma capacidade aeróbia bem desenvolvida ser indispensável, existem outros parâmetros fisiológicos podem ser mais importantes no desempenho desportivo do que o VO2max, tais como o limiar anaeróbio, a economia da corrida ou a utilização fraccional do VO2max (5). Uma das principais adaptações ao treino dos fundistas ao longo dos anos é o aumento da capacidade de utilização de uma elevada percentagem do seu VO2max por períodos prolongados, permitindo melhorias da performance sem grandes aumentos do VO2max (3).

O treino destes atletas produz adaptações fisiológicas que influenciam os processos de transporte e utilização de energia pelos músculos em esforço. Assim algumas das principais adaptações anatómicas e fisiológicas, para além das que já foram referidas, são o aumento do tamanho e número das mitocôndrias, o aumento da densidade de capilares, o aumento da concentração de hemoglobina e a hipertrofia do ventrículo esquerdo (2,4,6). Todos estes factores têm influência no VO2max, e fornecem as bases para uma performance física melhorada.

A frequência cardíaca em repouso reduz-se significativamente em consequência do treino de endurance, atingido frequentemente em atletas valores inferiores a 40 batimentos por minuto. A frequência cardíaca em actividades sub-máximas também diminui, proporcionalmente à quantidade de treino, e apenas a frequência cardíaca máxima não varia, ou desce pouco, provavelmente para que o volume sistólico óptimo maximize o débito cardíaco (4).

O fluxo sanguíneo aos músculos também é aumentado pelo treino de resistência cardiovascular devido à melhor capilarização, à maior abertura dos capilares existentes e à redistribuição mais eficiente do sangue. O volume de sangue destes atletas aumenta, devido principalmente ao aumento do volume de plasma (4).

Em termos respiratórios, ocorre a manutenção da maioria dos volumes pulmonares estáticos, mas o volume oscilante aumenta em esforços máximos. A frequência respiratória reduz-se ligeiramente em esforços sub-máximos e aumenta consideravelmente em esforços máximos, como consequência do treino continuado. A diferencia artério-venosa de oxigénio aumenta com treino, reflectindo uma melhor extracção do oxigénio pelos tecidos e uma melhor distribuição do sangue (4).

Referências:
(1) Powers S, Howley E (2008). Exercise Physiology – Theory And Application to Fitness and Performance. 7ª Ed. Boston: McGraw-Hill
(2) Birch K, MacLaren D, George K (2005). Instant notes in sport and exercise physiology. New York: Garland Science/BIOS Scientific Publishers
(3) Maughan R (2000). Physiology and Biochemistry of Middle Distance and Long Distance Running em  Hawley J (Ed.).  Handbook of Sports Medicine and Science – Running. Oxford: Blackwell Science
(4) Wilmore J, Costill D (1996). Fisiología Del Esfuerzo y del Deporte. Barcelona: Editorial Paidotribo
(5) Shave R, Franco A (2006). The physiology of endurance training em Whyte G, Spurway N, MacLaren D (Ed.). The Physiology of Training. Philadelphia: Churchill Livingstone Elsevier
(6) Koutedakis Y, Metsios G, Stavropoulos-Kalinoglou A (2006). Periodization of exercise training in sport em Whyte G, Spurway N, MacLaren D (Ed.). The Physiology of Training. Philadelphia: Churchill Livingstone Elsevier

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